Durante a Conferência Nacional de Segurança no Trânsito: Protegendo Vidas Sobre Duas Rodas, organizada pela Secretaria Nacional de Trânsito (SENATRAN) e realizada em Brasília entre os dias 28 e 30 de julho, foram apresentados os resultados preliminares de um estudo conduzido pela Universidade de São Paulo (USP), Universidade Federal do Ceará (UFC), Instituto Cordial e Vital Strategies sobre os impactos da Faixa Azul na cidade de São Paulo.
A análise inédita foi realizada entre 2024 e 2025, em 190 quilômetros de vias com sinalização específica para motociclistas. Os dados revelam um cenário preocupante, nas chamadas “vias protegidas”, cerca de 70% dos motociclistas excedem os limites de velocidade, em contraste com apenas 10% nas pistas tradicionais. Além disso, foi registrado aumento de sinistros em cruzamentos ao longo do trajeto da Faixa Azul — justamente os pontos mais críticos do sistema viário urbano.
Embora o modelo tenha sido concebido com o objetivo de proteger motociclistas e organizar o fluxo de tráfego, os dados indicam que, sem controle efetivo da velocidade e fiscalização adequada, os riscos aumentam. Por isso, os próprios pesquisadores responsáveis pela avaliação não recomendam a expansão da Faixa Azul para outras cidades do país, como já ocorre no Rio de Janeiro e em outros municípios.
Esses achados reforçam a urgência da aprovação do Projeto de Lei das Velocidades Seguras (PL 2789/2023), que propõe a redução dos limites de velocidade nas cidades brasileiras, com parâmetros adequados ao tipo de via e à presença de modos ativos de transporte. A proposta está alinhada às recomendações da Organização Mundial da Saúde e ao Plano Nacional de Redução de Mortes e Lesões no Trânsito (PNATRANS), e inclui também a fiscalização por velocidade média — estratégia mais eficiente e justa do que os radares pontuais, especialmente em contextos urbanos.
Diante das evidências apresentadas, fica claro que infraestruturas isoladas, como a Faixa Azul, não garantem segurança no trânsito. O controle de velocidade precisa estar no centro das políticas públicas voltadas à proteção da vida. O PL das Velocidades Seguras representa esse avanço necessário: um marco legislativo que prioriza a prevenção, valoriza dados científicos e aponta para cidades mais humanas, onde a mobilidade seja sinônimo de cuidado e não de risco.